Desejos
proibidos
Numa sociedade compulsiva, você pode estar viciado mesmo sem saber. Mas esse mal tem cu
Vivemos em uma sociedade viciada, intoxicada,
doente. E a dependência não tem que ver somente com o consumo de substâncias
ilegais. O mundo se transformou em uma grande “cracolândia comportamental”.
Celular, internet, cacau em pó, carboidratos, exercício, cirurgia plástica,
dinheiro, compras, filmes, jogos, medicamentos, emagrecedores, trabalho,
cibersexo e pornografia são apenas alguns dos inúmeros vícios atuais.
Existe, por exemplo, uma onda de viciados em
telas digitais: celular, computador, tablet, TV. Você mesmo consegue ficar
desconectado por uma semana ou sequer um dia? Em países da Ásia, o problema é
sério. A China está preocupada com a “heroína eletrônica” que afeta seus
jovens. Na Coreia do Sul, o vício em internet atinge pelo menos 10% dos
adolescentes. O detox digital é feito em centros de reabilitação.
Para a criança, o tempo diante da tela age
como um estimulante (dopamina digital) não muito diferente do efeito de uma
droga. No entanto, o prazer é prejudicial, e faz bem desconectar-se. Além de
diminuir a inteligência emocional dos nossos filhos, o excesso de tecnologia
pode estar acentuando o problema de autismo e déficit de atenção nos mais
novos. Isso é o que sugere um estudo feito na Romênia. Estamos criando uma
geração que se relaciona melhor com as máquinas do que com as pessoas. São
jovens plugados em aparelhos, mas desconectados do mundo.
Causado por fatores biopsicológicos, o vício é
um padrão de comportamento recorrente que, embora cause sensações momentâneas
agradáveis, traz danos para a própria pessoa, a família e a sociedade. É uma
doença do cérebro, pois muda a estrutura do nosso órgão mais precioso e a
maneira dele funcionar. Coisas viciantes inundam o cérebro de dopamina,
alvejando o centro do prazer, e criam dependência. Com isso, alteram os
circuitos cerebrais. A memória da sensação prazerosa torna o comportamento
automático.
Pesquisas indicam que uma recompensa
inesperada leva os neurônios a liberar uma dose maior de dopamina, o que causa
mais euforia. Por exemplo, a pessoa que trai o cônjuge está tentando comprar
prazer inesperado. Diante da sensação, o fluxo de dopamina estimula o cérebro a
prestar atenção ao novo estímulo. Com o tempo, o estímulo deixa de ser
novidade, e a pessoa se habitua a ele. Para ter mais prazer, ela busca novos
estímulos. Por isso, se você comprar um carro ou computador novo, a satisfação
será maior no início. O vício segue essa lógica.
Os cientistas estão aperfeiçoando o
diagnóstico dos vícios, utilizando análise do comportamento, imagens
neurológicas e dados genéticos. A ideia é ir além do “sim” ou do “não”. Afinal,
se a descoberta de uma doença como o câncer exige mais detalhamento, o mesmo
princípio se aplica aos hábitos comportamentais. Para um tratamento
customizado, é necessário um diagnóstico personalizado.
A dependência é uma doença tratável como
qualquer mal crônico, e a graça divina ainda faz milagres e liberta do pecado,
como enfatiza a matéria de capa desta edição. Porém, o melhor é evitar
comportamentos compulsivos. As pessoas precisam voltar a encontrar sentido nas
coisas simples e agradáveis da vida.
O psiquiatra Viktor Frankl, famoso
sobrevivente do campo de concentração nazista, apontou três grandes males da
sociedade moderna aos quais ele chamou de “tríade neurótica de massa”:
agressividade, dependência e depressão. O remédio, segundo ele, é encontrar a
plenitude de sentido para a vida. Enquanto o vazio existencial não for
preenchido por algo realmente significativo, o vício vai predominar. É Deus
quem satisfaz os desejos do coração (Sl 37:4). Encontre a felicidade Nele, e
você não precisará buscar prazer em desejos proibidos!
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Artigo publicado originalmente
na edição de agosto de 2017)