O Culto Paralelo de Mitras
José Carlos Ramos, D.Min
Engenheiro Coelho, SP,
junho de 2012
“Por que o cristianismo de hoje difere, em
crença e prática, do cristianismo do 1º século?”, alguns indagam surpresos
quando começam a tomar conhecimento dos claros ensinos da Bíblia.
A história responde! Tão logo a era
apostólica chegou ao fim, desvios de verdades originais do cristianismo
começaram a ocorrer, incluindo mudanças quanto ao dia e à forma do culto
cristão. Com o imperador Constantino (4º século), o primeiro dia da semana oficializou-se
para santificação e culto em lugar do sétimo, para o quê em muito contribuiu a
adoração do sol, originada dos persas, que adoravam Mitras, a maior
representação ou manifestação do astro-rei.
Na Avesta,
a coleção de escritos sagrados da mais conhecida filosofia religiosa da Pérsia,
o zoroastrismo, Mitras é um deus
guerreiro, aliado poderoso da suprema divindade, Ahura Mazda, em seu
eterno combate contra as forças das trevas; este mito era parte do dualismo persa envolvendo dois
princípios antagônicos: o bem e o mal. Algum paralelo com o que a Bíblia
informa sobre o grande conflito não é
mera coincidência.
Expansão do Culto
O desaparecimento do império persa não
significou o fim do mitraísmo. Muito ao contrário, as conquistas gregas, e em
seguida as romanas, propiciaram uma expansão do culto tonando-o universal. Por
exemplo, nos Vedas, os escritos
sagrados do hinduísmo (a religião da maioria na Índia), Mitras aparece como a
luz celeste. É que antes da era cristã, as milícias romanas difundiram o
mitraísmo até o extremo oriente; e já na era cristã, levaram-no até os extremos
do Ocidente conhecido. Assim, o culto a Mitras, suposto deus da luz e da
verdade, acabou difundido em todo o império.
No 2º século, muitos da elite romana, que
incluía a classe culta e os que reuniam o poder, aderiram à adoração de Mitras,
indicando que o mitraísmo logo se tornaria o culto oficial do império. De fato,
isso aconteceu no 3º século, sob Aureliano (270-275);
o deus-sol agora se tornara supremo como Sol
Dominus Imperii Romani (Sol, o Senhor do Império Romano).
Diversos imperadores foram ardorosos
mitraístas, entre eles Heliogábulo (218-222), nome
adotado por Varius Avito Bassiano em homenagem ao deus-sol, de quem se tornou
grão-sacerdote hereditário e em cuja homenagem ergueu em Roma dois templos
(em grego, hélio significa sol, e gábulo seria a forma helenizada do
siríaco gabal, montanha).
Constantino, no 4º século, emitiu a primeira lei dominical por influência do
mitraísmo. Ela abria com as seguintes palavras: “Que todos os juízes, e todos
os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do sol.”
Tudo isso, naturalmente, contribuiu para que
certas práticas do culto a Mitras, incluindo o dia consagrado à sua adoração e
serviço, o primeiro da semana, fossem incorporadas pela cristandade no culto a
Cristo. Aliás, incontinente, a igreja na época
sancionou o decreto dominical de Constantino promulgado em 321.
Paralelos
Certamente os paralelos entre o mitraísmo e o
cristianismo favoreceram tal incorporação. Segundo a lenda, Mitras nasceu numa
gruta e teve alguns pastores como os primeiros a adorá-lo; devido ao lugar do
seu nascimento, o culto a ele era realizado em grutas quase sempre construídas,
que recebiam o nome de mitraemos. No
interior da gruta havia uma pedra que servia de altar, e no teto uma fresta
posicionada de tal maneira que ao meio-dia o raio do sol penetrava atingindo o
altar. Neste momento se prestava o culto a Mitras. Também Cristo, ao nascer,
teve a visita de pastores que, se não O adoraram, glorificaram e louvaram a
Deus pelo que ocorrera (Lc 2:20).
Como servidor eleito por Ahura Mazda, Mitras,
em sua passagem pela terra, operou muitos e poderosos milagres, culminando o
seu ministério em favor dos homens com o sacrifício de um touro sagrado, cujo
sangue fertilizou a Terra. O mesmo pode ser dito de Cristo, com a exceção de
ter sido eleito pelo Deus verdadeiro, e ter oferecido o sacrifício de Si mesmo.
Ainda segundo a lenda, Mitras finalmente ascendeu ao Céu, onde mora com os
imortais, e está sempre abençoando os que o invocam; uma réplica da ascensão de
Cristo e do fato de interceder no Céu por Seus seguidores.
Há outros paralelos. Para se tornar um adepto
do mitraísmo, o candidato se submetia a um rito batismal, o que também é requerido no
cristianismo. O batismo mitraico, porém, era feito com aspersão, em todo o corpo do candidato, de
sangue de touro, o animal de cuja espécie um havia sido sacrificado, segundo a lenda, por Mitras no fim de seu ministério.
O batismo cristão, claro, é por imersão na água; mas não seria derivada
daí a prática do batismo por aspersão?
Em seguida vinha a cerimônia da comunhão no
mitraísmo: o adepto comia pão e bebia água, ou vinho, como forma de
participação na própria divindade. Aplicavam-lhe, então, mel na palma da mão e na língua. Finalmente era-lhe requerido que
orasse a Mitras e o invocasse com o oferecimento de um sacrifício.
Também no cristianismo ocorre o serviço periódico da comunhão, quando pão e vinho
são servidos, através dos quais se comemora o sacrifício de Jesus e se
intensifica a união com Ele. A invocação do nome de Cristo também é referida na
Bíblia (At 22:16; Rm 10:13; 1Co 1:2; 2Tm 2:22).
Os mitraístas criam no paraíso e no inferno,
para onde, após a morte, iam bons e maus respectivamente. Para eles, esta vida
era um preparo para a vida eterna, que seria de felicidade ou de dor. Claro que
está envolvida aqui a crença na imortalidade da alma e concepções decorrentes.
O tema do galardão para
bons e da punição para maus é bíblico, mas a ideia de que são conferidos logo após a morte é deturpação
pagã que o cristianismo popular herdou do mitraísmo; segundo este, entre o
paraíso e o inferno, havia uma espécie de purgatório,
conhecido como a morada dos pesos iguais, destinada às almas que haviam praticado
igual quantidade de boas e más obras. De onde teria vindo para o cristianismo
popular crendice semelhante?
Agora vejam: era também crido que no último dia os mortos sairiam dos túmulos
com o chamado de Mitras, que conduziria os praticantes do bem ao céu de luz e
glória, e enviaria os praticantes do mal a um lugar de trevas e sofrimento. Uma
crença praticamente idêntica ao fato de que Jesus, em Sua segunda vinda e no
fim do milênio, chamará os que estão mortos para adentrarem a glória ou para
enfrentarem “trevas... choro e ranger de dentes” (Mt 22:13).
De quebra, afirmava-se que Mitras nascera em
25 de dezembro, mais ou menos na época do solstício de inverno no hemisfério
norte, a partir do qual os dias vão se tornando cada vez mais longos, isto é, o
sol vai aumentando o seu domínio. Igualmente a cristandade comemora o
nascimento do Salvador nessa data. Os Evangelhos, todavia, guardam total
silêncio quanto ao dia do Seu nascimento, havendo, inclusive, evidência que não
poderia ter sido em dezembro.
Autoria dos Paralelos e das Falsidades
É fácil se surpreender com os paralelos entre
o mitraísmo e o cristianismo. “Quanta coincidência!”, alguém exclamaria. Mas
seriam apenas coincidências? Não o creio.
O inimigo é o mestre da
contrafação. É especialista não só na arte de imitar a verdade, mas também de entremeá-la com
falsidades. Observe-se que os paralelos, que refletem fatos do evangelho,
acham-se mesclados com falsidades simuladas e bem elaboradas. Os paralelos contribuíram
para a infiltração do engano na dogmática cristã.
O inimigo sabe que muito mais fácil e eficiente que fomentar a aceitação
de uma mentira total, é dosá-la com poucas
(ou até muitas) verdades, e então oferecê-la como prato apetitoso,
avidamente aceito; e assim, a mentira ganha terreno, sendo engenhosamente promovida.
Outra coisa que ele se esmera em fazer é
camuflar o engano, revestindo-o com uma aparência de verdade. O Apocalipse
revela esse fato objetivamente. Tão grande é seu empenho, que ele tenta imitar
os próprios atos de Deus e suas verdades, o que, é claro, implica sua grande ambição original que ainda perdura: ser
como Ele. Os paralelos alistados nesse livro são uma contundente denúncia do estratagema satânico. Como os seres de um
grupo se opõem aos seres do outro grupo, classifico esses paralelos de antitéticos. O empenho satânico deve ser
considerado tão somente uma contrafação infame. A seguir, doze paralelos:
(01) Deus Se revela em forma triúna: Pai,
Filho e Espírito Santo
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O inimigo se revela em forma triúna: dragão,
besta e falso profeta
(2ª besta)
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(02)
O Filho é o Cristo
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A besta é o anticristo
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(03) Unidade entre o Pai e o Filho: o
segundo é a imagem do
primeiro
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Unidade entre o dragão e a besta: esta é a imagem do dragão
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(04) O Filho recebe trono e autoridade do Pai
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A besta recebe trono e autoridade do dragão
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(05) Espírito Santo glorifica e exalta o Filho
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O falso profeta glorifica e exalta a besta
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(06) Jesus, o Filho, é morto
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A besta recebe uma ferida de morte
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Nota: o mesmo termo grego, esphagménon,
“havendo sido morto”, é empregado em
relação a Cristo em Apoc 5:6 e 13:8, e em
relação à besta em 13:3
|
|
(07) Jesus foi morto e ressuscitou
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A besta foi ferida e será curada
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(08) Jesus na posse de maior poder depois de
ressuscitado
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A besta ostentará maior poder depois que a
ferida mortal for
curada
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(09)
Antes de ser morto Jesus exerceu maior ação num determinado lugar da Terra, a
Palestina
|
Antes de ser ferida de morte, a besta exerceu
mais o seu poder numa
determinada
região da Terra, a
Europa ocidental
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(10)
Depois da ressurreição, o senhorio de Jesus se estendeu, por obra e graça do
Espírito Santo, por toda a Terra
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Depois da cura de ferida mortal, a supremacia
da besta se estenderá,
pela atuação do
falso profeta, por toda
a Terra
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(11)
Uma mulher pura está relacionada com Jesus
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Uma mulher imunda está relacionada com a
besta
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(12) Selo de Deus
contendo Seu nome
|
Marca da besta contendo seu nome
|
Bem, o inimigo foi astuto e suficientemente
hábil para criar o mitraísmo e universalizá-lo mais ou menos ao mesmo tempo em
que a genuína história e os ensinamentos de Jesus foram levados ao mundo
através da pregação do evangelho. E o que é o mitraísmo senão um arremedo
grotesco daquela maravilhosa Vida e ensinamentos? E o pior, o inimigo fez com
que este arremedo, em vários aspectos, tomasse finalmente o lugar da verdadeira
Vida que foi vivida e sacrificada pelos pecadores, bem como o lugar dos ensinos
dela advindos. E o arremedo permaneceu.
Conclusão: A Restauração Prevista
Dou graças a Deus porque em cada época Ele
teve Suas fiéis testemunhas. A profecia, porém, previu que, nos últimos dias, seriam
vindicadas as verdades jogadas por terra pela estratégia satânica unida à insensatez
humana (Dn 8:10-14). Com efeito, Jesus só voltará quando todas as coisas que a
apostasia colocou a perder forem restauradas (ver At 3:21).
Esta restauração está hoje em andamento,
conforme o remanescente cumpre sua missão no mundo. Desta restauração nos fala
Dn 8:14 e particularmente Ap 14:6-12. Aqui, o vidente de Patmos vê o povo de
Deus proclamando a tríplice mensagem angélica e guardando os Seus mandamentos,
isto é, a Igreja novamente sustentando as verdades divinas, como foi feito no
1º século. Que restauração prodigiosa e que sublime privilégio o nosso!
Tão logo ela alcance todos os rincões do
mundo e cada pessoa defina sua posição quanto ao que a Bíblia diz, Jesus
voltará para conduzir “a nação justa que observa a verdade” (Is 26:2, Almeida Revista e Corrigida) ― os Seus seguidores,
ao lar que lhes “está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:34).
Estamos orando para que a obra de Deus, a
cada dia, avance com poder? E, considerando que o fim se aproxima, estamos nos
preparando para a crise que se abaterá em breve sobre o mundo?
Que naquele glorioso dia nada seja encontrado
em nós que reflita o culto paralelo de Mitras; tão somente o apego irrestrito
às verdades que Deus graciosamente revelou.
Aqui eu quero com esta publicação prestar um tributo de amizade sincera ao meu amigo particular Pr Dr José Carlos Ramos - Voxdesertum 12/10/2012
Aqui eu quero com esta publicação prestar um tributo de amizade sincera ao meu amigo particular Pr Dr José Carlos Ramos - Voxdesertum 12/10/2012
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