domingo, 22 de novembro de 2015

BOM DIA RIO DOCE!


                                            BOM DIA RIO DOCE!

 
Ah! Esqueci-me, o Rio Doce agoniza no leito de morte, conseqüentemente não poderá responder, até que seja ressuscitado por um exclusivo milagre de Deus, mesmo que através de instrumentos humanos disponíveis ao bem.
Mas por agora não consigo ver sua beleza de sempre ao deslizar tranquilamente, e o balançar de suas ondas em seu costumeiro leito até o desague no atlântico.
Então... Só me resta dizer:
Bom Dia SAMARCO, e a todos os órgãos que compõem nossa nação tais como: Governo Federal, Ambientalistas, os responsáveis pela FEAM, SISNAMA, CONAMA, ONGs, Ministério Público, e nossos dedicados Políticos. [estes últimos, dedicados a si mesmos].
Quem autorizou o estabelecimento e funcionamento da SAMARCO?
O responsável pela fiscalização era tecnicamente apto para tal exercício?
Seria justo a SAMARCO arcar sozinha com as conseqüências de algo que é responsabilidade de todos acima?
SAMARCO para mim, e para a maioria das pessoas; embora a nossa Exma Executiva Federal a cognomine equivocadamente de São Marcos.
Equívocos acontecem principalmente em momentos extremos, onde a pressão das circunstâncias sobre o ambiente e sobre as pessoas coloca em prova as emoções de forma tão forte que as fazem engasgar, confundir os termos, e até mesmo chorar em público.
Afinal, equívocos todos nós cometemos [até mesmo nas eleições sucessivas de nossos governantes, em escolha livre e democrática], mas a Senhora primeira dama está perdoada por chamar a SAMARCO pelo nome de um santo, isto até ameniza os ânimos de muitos em horas tão amargas para milhares de seres que jazem às margens do leito do rio por onde a tragédia atingiu.
Que tristeza eu sinto, ao levantar pela manhã, abrir a janela, contemplar a lama, seu rastro maligno e sinistro no leito do Rio doce que outrora serenamente corria rumo ao mar, e agora, repentinamente, sentir o mau cheiro das espécies que nele havia, e que estão hoje, em pleno estado de putrefação, a perturbar minha mente, infectarem minhas narinas, esmagar meu coração com uma dor como se fosse a perda de um filho.
Pensar nas vidas que foram abalroadas pelo colossal avanço de uma avalanche de lama de alta densidade e toxidade, me causa muita comoção e dor, pensar sobre os peixes morrendo tentando encontrar oxigênio me entristece.
Há espécies de peixes que demoram a morrer e fico pensando no sofrimento na luta por sobrevivência.
O que dizer sobre a economia dos que viviam da pesca, e de suas famílias?
”Enfim a SAMARCO foi multada”, mas, não se esqueçam que por mais severa que ‘seja a multa, [se chegar ao destino], ela jamais será suficiente para restituir a vida das pessoas, ou devolver às famílias a alegria que gozavam antes, tampouco a fauna e a flora destruídas serão renovados em curto prazo.
Realmente, nada pagará o desequilíbrio provocado por este acidente, que com toda certeza poderia neste tempo de alta tecnologia ser evitado, houve falhas das medidas de segurança, alarmes, sensores eletrônicos falharam, ou inexistiam.
Quão constrangido me sinto, em ver o sofrimento dos nossos patrícios residentes nas áreas ribeirinhas do Rio Doce!
Quão triste viver com o paradoxo de admitir o Rio Doce como Rio Amargo, é uma inversão de origem tão rápida, que não é possível ser digerida em poucos dias.
Que Deus perdoe os responsáveis diretos e indiretos por essa tragédia e me console até que eu posa acostumar com a ideia de talvez morrer, sem nunca mais voltar a ver o rio da minha infância a ser como era antes.
Sou Técnico Químico Aposentado, e fico apreensivo com a informação da rapidez como está sendo feito o tratamento de água coletada hoje no leito do Rio Doce em Governador Valadares.
Posto que, a menos que a tecnologia tenha avançado muito [considerando que nossos governantes investem muito pouco em pesquisas]; As empresas responsáveis pelo tratamento e abastecimento de água estão aptas a tratar e eliminar metais pesados como chumbo, mercúrio e outros venenos, que mesmo na tolerância de [traços] em termos de análise química não deixam de ser prejudiciais ao organismo humano?
Fauna e flora foram dizimadas em tempo recorde, e aí fico em dúvida sobre um tratamento adequado e seguro desta água em tão rápido espaço de tempo.
Desconheço tecnicamente sobre mau odor causado pelo cloro [Cl2] depois de a água estar devidamente tratada após o tratamento terciário.
A água com odor é desaconselhável o seu consumo para o organismo, embora sirva para outros fins.
O mau cheiro não se resume a apenas à influência de Cloro residual, e uma análise por um órgão particular seria necessária para confirmar os dados da empresa do governo [isto é segurança, isto é prudência como prevenção de males futuros].
Meus amigos das cidades ribeirinhas do Rio Morto! Não bebam desta água sem os devidos cuidados!
Procurem uma orientação médica, que assegure sua decisão sobre o que fazer.
Jamais se esqueçam que os fortes têm
seus recursos para se livrarem das conseqüências de tudo aqui na Terra até que O Grande Juiz dê Seu veredicto final aos nossos destinos.
Embora tenhamos que respeitar as autoridades em quaisquer de seus níveis, isto jamais nos tira o direito de questionarmos a idoneidade dos órgãos públicos fiscalizadores em todas e quaisquer áreas da sociedade.
Algo inexplicável me implica muito:
A Força de Segurança Ambiental, em nome da proteção do Meio Ambiente tem ordem para prender [e prende], quem quer que cace uma capivara, um jacaré, ou pesque, e especialmente no período da piracema, sob pretexto de crime ambiental inafiançável.
Minha dúvida não se prende aos aspectos da lei em si mesma [lei é lei, e deve ser cumprida por todos], e o Judiciário ratifica a pena; mas o interessante é que perdemos de uma só vez várias vidas humanas e o resto das espécies animais que ainda existiam no Rio até estão Doce, e acrescido do agravante [na piracema].
Trabalhei como jurado no Tribunal do Júri por doze anos, e foi uma de minhas melhores experiências para me familiarizar com a lei e seus fins benéficos para a sociedade.
Compreendo exatamente o que significa crime doloso e crime culposo, mas se há penas para criminosos culposos comuns, ainda que mais branda, pelo fato de não agirem os infratores com a intenção de matar, pergunto: Em qual das duas categorias de crime os responsáveis pelas vidas humanas, e pela destruição da fauna do Rio Doce se enquadram?
Está claro como a luz do sol ao meio dia para mim, que a SAMARCO de forma alguma sonhou em destruir tantas vidas de uma só vez [no entanto, juntamente com as classes citadas nesta mensagem é culposa] até que se prove o contrário [isto é a lei], por trás da pessoa jurídica há homens, e ou mulheres que respondem pela empresa.  
Os responsáveis por esta catástrofe ambiental sem precedentes ficarão livres e soltos?
Será justo, a Segurança Ambiental continuar a coibir aquilo que a Lei considera crime, se nada acontecer em conseqüência desta desastrosa agressão causada a pessoas e ao Meio Ambiente?
Tenho quase 68 anos.
Será que posso sonhar em pescar, ou transferir este sonho para meus netos poder pescar um dourado no restaurado Rio Doce, que foi transformado brutalmente em Rio Amargo da noite para o dia?
Por favor! Compreendam o meu clamor e minha angústia!
Se eu me calasse carregaria o peso de uma culpa da qual jamais iria me perdoar. (Robin).



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