quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Culto Paralelo de Mitras




O Culto Paralelo de Mitras

José Carlos Ramos, D.Min

Engenheiro Coelho, SP, junho de 2012

“Por que o cristianismo de hoje difere, em crença e prática, do cristianismo do 1º século?”, alguns indagam surpresos quando começam a tomar conhecimento dos claros ensinos da Bíblia.
A história responde! Tão logo a era apostólica chegou ao fim, desvios de verdades originais do cristianismo começaram a ocorrer, incluindo mudanças quanto ao dia e à forma do culto cristão. Com o imperador Constantino (4º século), o primeiro dia da semana oficializou-se para santificação e culto em lugar do sétimo, para o quê em muito contribuiu a adoração do sol, originada dos persas, que adoravam Mitras, a maior representação ou manifestação do astro-rei.
Na Avesta, a coleção de escritos sagrados da mais conhecida filosofia religiosa da Pérsia, o zoroastrismo, Mitras é um deus guerreiro, aliado poderoso da suprema divindade, Ahura Mazda, em seu eterno combate contra as forças das trevas; este mito era parte do dualismo persa envolvendo dois princípios antagônicos: o bem e o mal. Algum paralelo com o que a Bíblia informa sobre o grande conflito não é mera coincidência.

Expansão do Culto

O desaparecimento do império persa não significou o fim do mitraísmo. Muito ao contrário, as conquistas gregas, e em seguida as romanas, propiciaram uma expansão do culto tonando-o universal. Por exemplo, nos Vedas, os escritos sagrados do hinduísmo (a religião da maioria na Índia), Mitras aparece como a luz celeste. É que antes da era cristã, as milícias romanas difundiram o mitraísmo até o extremo oriente; e já na era cristã, levaram-no até os extremos do Ocidente conhecido. Assim, o culto a Mitras, suposto deus da luz e da verdade, acabou difundido em todo o império.
No 2º século, muitos da elite romana, que incluía a classe culta e os que reuniam o poder, aderiram à adoração de Mitras, indicando que o mitraísmo logo se tornaria o culto oficial do império. De fato, isso aconteceu no 3º século, sob Aureliano (270-275); o deus-sol agora se tornara supremo como Sol Dominus Imperii Romani (Sol, o Senhor do Império Romano).
Diversos imperadores foram ardorosos mitraístas, entre eles Heliogábulo (218-222), nome adotado por Varius Avito Bassiano em homenagem ao deus-sol, de quem se tornou grão-sacerdote hereditário e em cuja homenagem ergueu em Roma dois templos (em grego, hélio significa sol, e gábulo seria a forma helenizada do siríaco gabal, montanha). Constantino, no 4º século, emitiu a primeira lei dominical por influência do mitraísmo. Ela abria com as seguintes palavras: “Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do sol.”
Tudo isso, naturalmente, contribuiu para que certas práticas do culto a Mitras, incluindo o dia consagrado à sua adoração e serviço, o primeiro da semana, fossem incorporadas pela cristandade no culto a Cristo. Aliás, incontinente, a igreja na época sancionou o decreto dominical de Constantino promulgado em 321.

Paralelos

Certamente os paralelos entre o mitraísmo e o cristianismo favoreceram tal incorporação. Segundo a lenda, Mitras nasceu numa gruta e teve alguns pastores como os primeiros a adorá-lo; devido ao lugar do seu nascimento, o culto a ele era realizado em grutas quase sempre construídas, que recebiam o nome de mitraemos. No interior da gruta havia uma pedra que servia de altar, e no teto uma fresta posicionada de tal maneira que ao meio-dia o raio do sol penetrava atingindo o altar. Neste momento se prestava o culto a Mitras. Também Cristo, ao nascer, teve a visita de pastores que, se não O adoraram, glorificaram e louvaram a Deus pelo que ocorrera (Lc 2:20).
Como servidor eleito por Ahura Mazda, Mitras, em sua passagem pela terra, operou muitos e poderosos milagres, culminando o seu ministério em favor dos homens com o sacrifício de um touro sagrado, cujo sangue fertilizou a Terra. O mesmo pode ser dito de Cristo, com a exceção de ter sido eleito pelo Deus verdadeiro, e ter oferecido o sacrifício de Si mesmo. Ainda segundo a lenda, Mitras finalmente ascendeu ao Céu, onde mora com os imortais, e está sempre abençoando os que o invocam; uma réplica da ascensão de Cristo e do fato de interceder no Céu por Seus seguidores.
Há outros paralelos. Para se tornar um adepto do mitraísmo, o candidato se submetia a um rito batismal, o que também é requerido no cristianismo. O batismo mitraico, porém, era feito com aspersão, em todo o corpo do candidato, de sangue de touro, o animal de cuja espécie um havia sido sacrificado, segundo a lenda, por Mitras no fim de seu ministério. O batismo cristão, claro, é por imersão na água; mas não seria derivada daí a prática do batismo por aspersão?
Em seguida vinha a cerimônia da comunhão no mitraísmo: o adepto comia pão e bebia água, ou vinho, como forma de participação na própria divindade. Aplicavam-lhe, então, mel na palma da mão e na língua. Finalmente era-lhe requerido que orasse a Mitras e o invocasse com o oferecimento de um sacrifício. Também no cristianismo ocorre o serviço periódico da comunhão, quando pão e vinho são servidos, através dos quais se comemora o sacrifício de Jesus e se intensifica a união com Ele. A invocação do nome de Cristo também é referida na Bíblia (At 22:16; Rm 10:13; 1Co 1:2; 2Tm 2:22).
Os mitraístas criam no paraíso e no inferno, para onde, após a morte, iam bons e maus respectivamente. Para eles, esta vida era um preparo para a vida eterna, que seria de felicidade ou de dor. Claro que está envolvida aqui a crença na imortalidade da alma e concepções decorrentes.
O tema do galardão para bons e da punição para maus é bíblico, mas a ideia de que são conferidos logo após a morte é deturpação pagã que o cristianismo popular herdou do mitraísmo; segundo este, entre o paraíso e o inferno, havia uma espécie de purgatório, conhecido como a morada dos pesos iguais, destinada às almas que haviam praticado igual quantidade de boas e más obras. De onde teria vindo para o cristianismo popular crendice semelhante?
Agora vejam: era também crido que no último dia os mortos sairiam dos túmulos com o chamado de Mitras, que conduziria os praticantes do bem ao céu de luz e glória, e enviaria os praticantes do mal a um lugar de trevas e sofrimento. Uma crença praticamente idêntica ao fato de que Jesus, em Sua segunda vinda e no fim do milênio, chamará os que estão mortos para adentrarem a glória ou para enfrentarem “trevas... choro e ranger de dentes” (Mt 22:13).
De quebra, afirmava-se que Mitras nascera em 25 de dezembro, mais ou menos na época do solstício de inverno no hemisfério norte, a partir do qual os dias vão se tornando cada vez mais longos, isto é, o sol vai aumentando o seu domínio. Igualmente a cristandade comemora o nascimento do Salvador nessa data. Os Evangelhos, todavia, guardam total silêncio quanto ao dia do Seu nascimento, havendo, inclusive, evidência que não poderia ter sido em dezembro.

Autoria dos Paralelos e das Falsidades

É fácil se surpreender com os paralelos entre o mitraísmo e o cristianismo. “Quanta coincidência!”, alguém exclamaria. Mas seriam apenas coincidências? Não o creio.
O inimigo é o mestre da contrafação. É especialista não só na arte de imitar a verdade, mas também de entremeá-la com falsidades. Observe-se que os paralelos, que refletem fatos do evangelho, acham-se mesclados com falsidades simuladas e bem elaboradas. Os paralelos contribuíram para a infiltração do engano na dogmática cristã. O inimigo sabe que muito mais fácil e eficiente que fomentar a aceitação de uma mentira total, é dosá-la com poucas (ou até muitas) verdades, e então oferecê-la como prato apetitoso, avidamente aceito; e assim, a mentira ganha terreno, sendo engenhosamente promovida.
Outra coisa que ele se esmera em fazer é camuflar o engano, revestindo-o com uma aparência de verdade. O Apocalipse revela esse fato objetivamente. Tão grande é seu empenho, que ele tenta imitar os próprios atos de Deus e suas verdades, o que, é claro, implica sua grande ambição original que ainda perdura: ser como Ele. Os paralelos alistados nesse livro são uma contundente denúncia do estratagema satânico. Como os seres de um grupo se opõem aos seres do outro grupo, classifico esses paralelos de antitéticos. O empenho satânico deve ser considerado tão somente uma contrafação infame. A seguir, doze paralelos:

(01) Deus Se revela em forma triúna: Pai,
        Filho e Espírito Santo
O inimigo se revela em forma triúna: dragão,
        besta e falso profeta (2ª besta)
(02) O Filho é o Cristo
A besta é o anticristo
(03) Unidade entre o Pai e o Filho: o
        segundo é a imagem do primeiro
Unidade entre o dragão e a besta: esta é a imagem do dragão
(04) O Filho recebe trono e autoridade do Pai
A besta recebe trono e autoridade do dragão
(05) Espírito Santo glorifica e exalta o Filho
O falso profeta glorifica e exalta a besta
(06) Jesus, o Filho, é morto
A besta recebe uma ferida de morte

Nota: o mesmo termo grego, esphagménon, “havendo sido morto”, é empregado em
relação a Cristo em Apoc 5:6 e 13:8, e em relação à besta em 13:3

(07) Jesus foi morto e ressuscitou
A besta foi ferida e será curada
(08) Jesus na posse de maior poder depois de
        ressuscitado
A besta ostentará maior poder depois que a
        ferida mortal for curada
(09) Antes de ser morto Jesus exerceu maior ação num determinado lugar da Terra, a Palestina
Antes de ser ferida de morte, a besta exerceu
        mais o seu poder numa determinada
        região da Terra, a Europa ocidental
(10) Depois da ressurreição, o senhorio de Jesus se estendeu, por obra e graça do Espírito Santo, por toda a Terra
Depois da cura de ferida mortal, a supremacia
        da besta se estenderá, pela atuação do
        falso profeta, por toda a Terra
(11) Uma mulher pura está relacionada com Jesus
Uma mulher imunda está relacionada com a
        besta
(12) Selo de Deus contendo Seu nome
Marca da besta contendo seu nome

Bem, o inimigo foi astuto e suficientemente hábil para criar o mitraísmo e universalizá-lo mais ou menos ao mesmo tempo em que a genuína história e os ensinamentos de Jesus foram levados ao mundo através da pregação do evangelho. E o que é o mitraísmo senão um arremedo grotesco daquela maravilhosa Vida e ensinamentos? E o pior, o inimigo fez com que este arremedo, em vários aspectos, tomasse finalmente o lugar da verdadeira Vida que foi vivida e sacrificada pelos pecadores, bem como o lugar dos ensinos dela advindos. E o arremedo permaneceu.

Conclusão: A Restauração Prevista

Dou graças a Deus porque em cada época Ele teve Suas fiéis testemunhas. A profecia, porém, previu que, nos últimos dias, seriam vindicadas as verdades jogadas por terra pela estratégia satânica unida à insensatez humana (Dn 8:10-14). Com efeito, Jesus só voltará quando todas as coisas que a apostasia colocou a perder forem restauradas (ver At 3:21).
Esta restauração está hoje em andamento, conforme o remanescente cumpre sua missão no mundo. Desta restauração nos fala Dn 8:14 e particularmente Ap 14:6-12. Aqui, o vidente de Patmos vê o povo de Deus proclamando a tríplice mensagem angélica e guardando os Seus mandamentos, isto é, a Igreja novamente sustentando as verdades divinas, como foi feito no 1º século. Que restauração prodigiosa e que sublime privilégio o nosso!
Tão logo ela alcance todos os rincões do mundo e cada pessoa defina sua posição quanto ao que a Bíblia diz, Jesus voltará para conduzir “a nação justa que observa a verdade” (Is 26:2, Almeida Revista e Corrigida) ― os Seus seguidores, ao lar que lhes “está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:34).
Estamos orando para que a obra de Deus, a cada dia, avance com poder? E, considerando que o fim se aproxima, estamos nos preparando para a crise que se abaterá em breve sobre o mundo?
Que naquele glorioso dia nada seja encontrado em nós que reflita o culto paralelo de Mitras; tão somente o apego irrestrito às verdades que Deus graciosamente revelou. 

Aqui eu quero com esta publicação prestar um tributo de amizade sincera ao meu amigo particular Pr Dr José Carlos Ramos - Voxdesertum 12/10/2012